Um estudo recente acendeu o alerta: a pandemia de Covid-19 pode ter deixado cicatrizes invisíveis no nosso cérebro. Mesmo quem não contraiu o vírus pode ter sofrido um envelhecimento cerebral precoce, segundo pesquisadores britânicos da Universidade de Nottingham.

A pesquisa, publicada na revista Nature Communications, analisou imagens cerebrais de quase mil pessoas antes e depois da pandemia. O resultado chamou atenção: houve um aumento na “idade cerebral” de muitos participantes, especialmente entre idosos, homens e pessoas em situação de vulnerabilidade social. Tudo isso sem que tivessem sido infectados.

O motivo? Segundo os especialistas, o estresse prolongado, o isolamento social e o clima de incerteza vivido entre 2020 e 2022 impactaram diretamente a estrutura do cérebro. A sensação constante de ameaça, a quebra da rotina e a solidão parecem ter deixado marcas profundas e silenciosas.

Diferente dos infectados, que apresentaram perda de flexibilidade mental e agilidade cognitiva, quem não teve Covid sentiu os efeitos de forma mais sutil. Mas os exames mostraram claramente: o cérebro envelheceu. E isso, por si só, já é um dado preocupante.

Ali-Reza Mohammadinejad, um dos autores do estudo, disse ter ficado surpreso com o impacto em pessoas teoricamente saudáveis. “A pandemia mexeu com a mente de todos nós. Mesmo sem o vírus, o trauma coletivo existiu”, afirmou.

A boa notícia, segundo os cientistas, é que essas mudanças podem ser reversíveis. Cuidar da saúde mental, retomar laços sociais e buscar rotinas saudáveis, são caminhos possíveis para reequilibrar o cérebro.

O estudo é um lembrete de que a pandemia não afetou apenas nossos pulmões — ela mexeu, e muito, com nossa mente. E talvez agora, passado o pior, seja hora de olharmos com mais carinho para essa parte do corpo que tanto tentou nos proteger: o cérebro.