
A cena foi emblemática: Jair Bolsonaro, de tornozeleira, caminhando pelo Congresso Nacional. O ex-presidente, réu por tentativa de golpe, tem usado a própria punição como palco para sua narrativa de vítima. E o que poderia soar como vitória para o governo Lula — uma eventual prisão — virou um problema político delicado.
Prisão agora fortalece discurso de perseguição
Fontes do Planalto dizem que a prisão de Bolsonaro, antes do julgamento final no STF, jogaria combustível no discurso de “caça às bruxas” alimentado pelo ex-presidente e seus aliados. A preocupação é que isso mobilize sua base, que ainda resiste em admitir os erros do ex-mandatário. Além disso, o clima interno já é de cautela. Lula tem se mantido distante das decisões do Judiciário e orientou sua equipe a fazer o mesmo.
Tarifaço de Trump complica ainda mais o cenário
Outro fator que pesa é a crise com os Estados Unidos. As tarifas anunciadas por Donald Trump sobre produtos brasileiros vieram acompanhadas de críticas duras ao tratamento que Bolsonaro estaria recebendo da Justiça. Washington associou diretamente o “tarifaço” à atuação do ministro Alexandre de Moraes, o que colocou o Planalto em posição desconfortável.
Um timing político delicado
No governo, a avaliação é que o melhor desfecho seria Bolsonaro ser julgado com todas as garantias — inclusive direito a recorrer. Isso evitaria ruídos diplomáticos e mostraria ao eleitorado que o processo corre dentro da legalidade.
O receio de Bolsonaro provocar a própria prisão
Ainda assim, há quem acredite que o próprio ex-presidente esteja testando os limites. Ao desafiar decisões judiciais com aparições públicas e indiretas nas redes sociais, Bolsonaro pode estar tentando forçar um confronto. Se isso acontecer, o governo teme o impacto político e internacional desse novo embate.