Geopolítica e Tecnologia
Bloqueio do GPS no Brasil? Especialistas explicam se ameaça dos EUA é viável
Possibilidade gera alarme, mas técnica é considerada improvável e arriscada até para os próprios americanos

A tensão diplomática entre Brasil e Estados Unidos ganhou um novo capítulo com rumores de sanções inéditas: aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro sugeriram que Washington estaria considerando até o bloqueio do sistema GPS em território brasileiro. Mas isso é possível mesmo?
A resposta curta é: pouco provável. A longa e mais interessante envolve tecnologia, geopolítica e muita cautela.
O GPS, aquele mesmo que guia o seu celular ou o trajeto do carro por aplicativos, é controlado pelos EUA. Mas ele é como uma rádio global: os satélites enviam sinais para todo o planeta, sem distinção de fronteiras. “É como TV aberta. O sinal vai pra todo mundo. Para bloquear só o Brasil, teriam que fazer mudanças estruturais e arriscadas”, explica Eduardo Tude, engenheiro e presidente da consultoria Teleco.
A idéia de cortar o GPS exclusivamente no Brasil beira o impossível. Qualquer tentativa desse tipo acabaria afetando países vizinhos e até os próprios americanos, que dependem do GPS tanto quanto qualquer outro país.
Interferência? Só com tecnologia de guerra
O que já aconteceu em zonas de conflito como na Ucrânia é o jamming, técnica que neutraliza o sinal dos satélites com interferência local. Para isso funcionar por aqui, alguém teria que instalar transmissores no Brasil. E isso, segundo especialistas, seria uma verdadeira sabotagem. “Seria como apagar todas as luzes de uma cidade para tentar esconder uma casa”, diz a engenheira Luísa Santos, especialista em sistemas aeroespaciais.
Outro recurso usado por potências militares é o spoofing, que engana os receptores com sinais falsos. Mas a eficácia dessa técnica, fora de contextos militares específicos, também é limitada. “É algo sofisticado e muito caro de se implementar em larga escala”, afirma Santos.
Mesmo que um dia o GPS fosse limitado, o mundo não ficaria às cegas. Sistemas alternativos como o russo GLONASS, o chinês BeiDou e o europeu Galileo já são compatíveis com muitos dispositivos. Além disso, há redes terrestres de backup em países desenvolvidos.
- Com informações da BBC Brasil