
Uma pesquisa da USP jogou luz sobre um problema sério e, até então, invisível: a diferença entre o que os pacientes com hipertensão dizem… e o que realmente fazem. O levantamento ouviu 253 pessoas que afirmaram tomar remédio para controlar a pressão. Mas na hora da verdade o exame de urina mostrou que só 32,4% tinham a substância no corpo. Ou seja, quase 70% estavam sem medicação, mesmo dizendo o contrário.
A hipertensão afeta quase 28% da população brasileira, e a ausência de sintomas é uma armadilha: o paciente se sente bem, acha que não precisa do remédio, e simplesmente para de tomar. É o que explicou a pesquisadora Mayra Pádua Guimarães, que conduziu o estudo.
“Não adianta falar de novos medicamentos se o básico não está sendo feito”, alerta.
Os motivos são muitos, esquecimento, medo dos efeitos colaterais, custo, e até o cansaço com a troca constante de médicos. Para o cardiologista João Roberto Gemelli, é um cenário comum nos consultórios. “Quando mal controlada, a pressão alta vira uma bomba-relógio”, disse.
A pesquisa é a primeira do tipo no Brasil e reforça o que muitos médicos já desconfiam no dia a dia. O paciente diz que está em dia com a cartela de remédios, mas a realidade mostra outra coisa.
A boa notícia? Remédios mais simples, com dose única e ação prolongada, podem ajudar. Mas antes disso, é preciso algo ainda mais básico: vínculo entre médico e paciente, informação clara e, claro, compromisso de ambos os lados. Porque de nada adianta prescrever, se ninguém está tomando.