
Na manhã do dia 16 de maio de 2025 a Polícia Civil de Goiás (PCGO) deflagrou a Operação Máscara Digital, um movimento estratégico para desmontar uma associação criminosa especializada em crimes contra a honra, todos praticados de forma digital, através dos perfis no Instagram “@anápolis na Roda”, @anapolisnaroda2 e @anapolisnaroda3.
Segundo a polícia, foram meses de investigação conduzida pelo Grupo Especial de Investigações Criminais (Geic) de Anápolis. Tudo começou com uma denúncia de perseguição e difamação. Logo, os investigadores descobriram que não era um caso isolado. Havia dezenas de boletins relatando ataques semelhantes, sempre vindos da mesma fonte e de forma orquestrada.
Os investigados são Luis Gustavo Souza Rocha, então secretário municipal de comunicação e eventos de Anápolis; Denilson da Silva Boaventura, então diretor de comunicação da Câmara Municipal de Anápolis e diretor de operações do Portal 6, Ellysama Aires Lopes Almeida, influencer e ex-candidata a vereadora de Anápolis. Segundo a investigação, eles usavam o perfil para atacar adversários, políticos e figuras públicas da cidade.
Luis e Denilson ainda não se manifestaram publicamente, já a ativista Ellysama Aires negou qualquer envolvimento com o perfil “Anápolis na Roda”. Em entrevista ao DM Anápolis, afirmou que nunca soube quem eram os administradores da página. De acordo com ela, sua única ligação foi ter gerenciado o “Anápolis Humorada” em 2024, antes de o perfil mudar de nome e controle. Ellysama criticou a operação policial que a prendeu, relatando invasão de domicílio, arrombamento e abordagem armada a familiares. Ela disse que apenas tentou pedir a exclusão de postagens por meio de mensagens diretas. A Polícia Civil investiga Ellysama por difamação contra a empresária Kelly Polyana Mendes Pires. A ativista alega inocência, diz que sempre assinou suas publicações e nega uso de perfis falsos. Ellysama também não aparece como integrante do grupo de whatsapp “Café com Pimenta”, citado nas investigações. O grupo inclui o prefeito Márcio Corrêa, o jornalista Denilson Boaventura e o secretário Luís Gustavo. A Polícia Civil ainda não se pronunciou oficialmente.
Prisões e reviravolta
A operação resultou no cumprimento de 10 ordens judiciais, incluindo as prisões dos investigados. Na tarde do mesmo dia 16 a juíza Marcella Caetano da Costa decidiu revogar as prisões, depois de pedido do Ministério Público. Segundo o MPGO, os requisitos para manter os investigados presos não estavam presentes.
Apesar da soltura, os três – Denilson da Silva Boaventura, Luís Gustavo Souza Rocha e Ellysama Aires Lopes de Almeida – seguem respondendo pelos crimes de injúria, calúnia, difamação, perseguição, falsa identidade e associação criminosa. Eles estão proibidos de manter qualquer rede social, sair da cidade ou mudar de endereço por duas semanas.
Na sexta-feira (23), o Grupo Especial de Investigações Criminais (Geic) da Polícia Civil de Goiás pediu à 5ª Vara Criminal de Anápolis que envie ao Tribunal de Justiça de Goiás o inquérito sobre o prefeito Márcio Corrêa (PL). A investigação apura o suposto envolvimento do prefeito, ele foi identificado em um grupo de WhatsApp que coordenava as postagens do perfil. A apuração avançou após a perícia nos celulares apreendidos, a análise revelou a participação de Corrêa, Rocha e do jornalista Denilson Boaventura no grupo “Café com Pimenta”. Uma mensagem atribuída ao prefeito sugere que ele orientava as postagens. Por envolver autoridade com foro especial, o caso foi enviado ao TJGO.
A Polícia Civil informou ainda que as provas foram coletadas com tecnologia forense, preservando a integridade digital. A investigação também busca identificar outros envolvidos, já que o perfil atacou até 50 pessoas.
Câmara Municipal reage e pede CEI
A repercussão da operação chegou forte à Câmara Municipal. Parlamentares usaram a tribuna para expressar apoio à Polícia Civil, mas também para exigir mais. O vereador Suender, que é Policial Federal, e Jean Carlos foram categóricos ao parabenizar a corporação. Já Domingos dev Paula e Cabo Fred Caixeta levantaram um ponto sensível: os danos causados às vítimas desses ataques. Citaram casos de perda de emprego, separações conjugais e até perseguição política.
A presidente da Casa anunciou a exoneração do então diretor de comunicação Denilson e fez um discurso equilibrado afirmando que a justiça exige o devido processo legal, o contraditório, e lembrou que se trata de um processo em curso.
Com o impacto das revelações ganhou força a proposta da criação de uma Comissão Especial de Investigação (CEI) para apurar os possíveis vínculos entre os investigados e servidores públicos.
A investigação segue. O trio continua sendo monitorado e deve, em breve, prestar novos esclarecimentos à Justiça. A cidade observa atenta, enquanto a Câmara decide se irá mesmo instaurar a CEI.