
A segunda-feira amanheceu sem ônibus circulando pelas ruas de Anápolis. Desde a madrugada do dia 30, toda a frota da Urban, empresa responsável pelo transporte coletivo municipal, permaneceu recolhida nas garagens. Os motoristas decidiram paralisar completamente o serviço após semanas de tentativas frustradas de negociação salarial. Enquanto passageiros faziam filas e procuravam informações, sem previsão de atendimento, sindicato, empresa e Prefeitura trocaram acusações durante toda manhã.
Motoristas cruzam os braços por falta de acordo salarial
Segundo o presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários de Anápolis (Sittra), Adair Rodrigues, o estopim para a greve foi a ausência de qualquer contraproposta por parte da Urban às demandas apresentadas pelos trabalhadores. Relatou que a decisão não partiu somente da diretoria sindical, mas de uma reunião com os motoristas na noite de domingo.
Em entrevista ao Portal Citizen afirmou que foram os próprios motoristas que exaustos de esperar decidiram pela paralisação. O sindicato afirma que a pauta reivindicatória estava sobre a mesa desde maio.
“Nossa data base venceu dia 30 de maio, demos um prazo adicional de 30 dias, mas não obtivemos respostas, por isso os trabalhadores decidiram pela “greve espontânea””, justificou.
Prefeitura e empresa reagem e prometem acionar a Justiça
Logo nas primeiras horas da manhã, a Prefeitura de Anápolis divulgou nota confirmando que o caso já foi judicializado. Pois, acreditam haver irregularidades na paralisação. A Agência Reguladora do Município (ARM) marcou uma reunião emergencial com a Urban e informou que tentaria mediar uma solução para restabelecer o transporte.
A ARM reconheceu que a pendência principal gira em torno da negociação da data-base dos motoristas — e que essa discussão tem sido protelada desde maio. Além da questão salarial, outro tema sensível é o reajuste tarifário, previsto para o mês de julho.
A Urban, por sua vez, foi ainda mais incisiva. Em nota oficial assinada pelo diretor jurídico, Carlos Leão, a empresa anunciou que tomará medidas judiciais contra o movimento. O texto destaca que qualquer reajuste salarial depende de providências da Prefeitura e critica a paralisação sem aviso formal.
Leia a nota da Urban na íntegra:
“Estamos buscando diálogo com o sindicato para que os serviços sejam restabelecidos. A lei determina que qualquer reajuste salarial à categoria dependerá de providências prévias por parte da Prefeitura Municipal. Desde o início do mês as notificações já foram enviadas pela empresa Urban tanto à Prefeitura quanto ao sindicato. Aguardamos as providências por parte da Administração Pública para buscar o avanço nas negociações. Esperamos que tudo se encaminhe da melhor maneira. Ressaltamos que o exercício do direito de greve depende da observância dos requisitos legais, como garantia do serviço mínimo e aviso-prévio à população. Assim, qualquer ato contrário à lei ensejará a adoção das medidas judiciais aplicáveis ao caso.”
A empresa também declarou que mantém disposição para negociação desde que respeitados os trâmites legais.
Categoria se defende: “Avisamos todo mundo”
Apesar do risco de responsabilização, o presidente do Sittra sustenta que o movimento foi comunicado às autoridades e à sociedade, ainda que não em forma de notificação oficial.
“Há semanas estamos falando que isso podia acontecer a qualquer momento”, afirmou Adair Rodrigues.
Ele acrescentou que a pauta de reivindicações foi enviada a todas as entidades relevantes:
“Nossa data-base venceu em 30 de maio e não tivemos nenhuma contraproposta. Avisamos todo mundo: a empresa, prefeitura, câmara, ACIA, CDL, Agência Reguladora do Município. Todos sabiam que a qualquer momento podíamos parar e não fizeram nenhuma proposta de reajuste. Ontem decidimos pela greve espontânea”, relatou ao Portal Citizen.
População sem alternativas
Com a frota completamente parada, trabalhadores e estudantes foram surpreendidos nas primeiras horas do dia. Nas proximidades do Terminal Urbano, muitos aguardaram em vão por ônibus que não sairiam da garagem. Sem aviso oficial nos pontos, passageiros se deslocaram como puderam, recorrendo a caronas, transporte por aplicativo ou caminhando longas distâncias.
Reunião e expectativa por acordo
A expectativa é que até o fim do dia haja uma decisão oficial sobre a retomada do serviço. O sindicato condicionou o retorno imediato a uma proposta concreta de recomposição salarial.
Caso o impasse persista, a paralisação pode continuar por tempo indeterminado, com impactos severos na rotina da cidade.
Enquanto trabalhadores e empresa trocam acusações sobre a responsabilidade pela greve e pelo cumprimento das regras, a população fica refém do transporte parado e da incerteza de quando os ônibus voltarão a circular.