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Novo estudo

Paradigmas do consumo de ômega-3

Suplementos com óleo de peixe podem oferecer resultados distintos aos consumidores. A substância cria tendência a problemas cardiácos em pessoas saudáveis, mas ajuda no controle de condições cardiovasculares em pacientes diagnosticaos

Por Isabella Almeida, Correio Braziliense

O uso de suplementos de óleo de peixe pode aumentar, ao invés de reduzir, em até 14% o risco de doenças cardíacas e acidentes vasculares cerebrais em pessoas com boa saúde que nunca tiveram infarto, derrame, ou evento semelhante. A mesma substância, no entanto, parece retardar a progressão de problemas cardiovasculares já existentes e diminuir o risco de morte, conforme sugerem os resultados de um estudo de longo prazo, publicado na revista BMJ Medicine.

O óleo de peixe é uma fonte rica de ácidos graxos ômega 3 e, por isso, é frequentemente recomendado como uma medida preventiva contra doenças cardiovasculares. Todavia, as evidências sobre sua eficácia ainda são inconclusivas, explicam os pesquisadores da Universidade Sun Yat-Sen, na China.

“O uso regular dos suplementos de óleo de peixe pode ter diferentes papeis na progressão de doenças cardiovasculares. Mais estudos são necessários para determinar os mecanismos exatos para o desenvolvimento e prognóstico de eventos cardiovasculares com uso regular de suplementos de óleo de peixe”, ressaltaram os autores, em nota.

Para avaliar essa teoria, os cientistas buscaram análises com associações entre o uso de suplementos de óleo de peixe é a incidência de fibrilação atrial, ataques cardíacos, derrames, insuficiência cardíaca e morte por qualquer causa em pessoas sem doenças cardiovasculares conhecidas.

In loco

Os pesquisadores avaliaram 415.737 participantes da UK Biobank,  com idades entre 40 e 65 anos. Do total dos voluntários, 55% eram mulheres, coletando informações sobre o consumo habitual de peixe oleosos e não oleosos e o uso de suplementos de óleo de peixe. A saúde das pessoas foi monitorada até o  fim de março  de 2021 ou até o óbito, o que ocorresse primeiro, por meio de dados médicos.

Do total de participantes, 31,5% relataram o uso regular de suplementos de óleo de peixe. Esse grupo incluía uma maior proporção de idosos, pessoas brancas e mulheres, além de maior consumo de álcool e peixe.

Durante um período médio de monitoramento de quase 12 anos,  18.367 pessoas do estudo desenvolveram fibrilação atrial, 22.636 sofreram ataque cardíaco, derrame, ou desenvolveram insuficiência cardíaca, e 22.140 morreram, desses 14.902 sem fibrilação atrial ou doença cardiovascular grave.

Entre aqueles que passaram boa saúde cardiovascular para fibrilação atrial, 3.085 desenvolveram insuficiência cardíaca, 1.180 tiveram um derrame e 1.145 um ataque cardíaco. E 2.436 daqueles com insuficiência cardíaca morreram, assim como 2.088 daqueles que tiveram um derrame e 2.098 daqueles que tiveram um ataque cardíaco.

Os resultados indicaram que o uso regular do suplementos de óleo de peixe teve diferentes impactos na saúde cardiovascular, progressão da doença e mortalidade. Para as pessoas sem problemas de saúde no início do estudo, o consumo da substância foi associado à um risco 13% maior de desenvolver fibrilação atrial e a um risco 5% mais elevado de acidente vascular cerebral.

Ernesto Osterne, cardiologista intervencionista do Instituto do Coração de Taguatinga (ICTCor), detalha que, atualmente, a abordagem mais adequada para pacientes com doenças cardiovasculares que já utilizam suplementos de óleo de peixe é manter medidas de controle das condições. “Tais como observar colesterol e glicemia, manter hábitos saudáveis como atividade física e alimentação adequada, cessar o tabagismo e fazer acompanhamento com cardiologista.”

No entanto, Osterne pondera que ainda não é possível afirmar sobre os possíveis prejuízos à saúde causados pelo suplementos usados por pessoas saudáveis. “Esse é um estudo observacional. É muito cedo para afirmar que em pacientes sem doença vascular há um incremento nos casos de doenças cardiovasculares.”

Resultados

Todavia, entre aqueles com doenças cardiovasculares, o uso regular de suplementos de óleo de peixe foi associado a um risco de 15% menos de progressão da fibrilação atrial para ataque cardíaco e a um risco 9% menos de morte em razão do infarto.

Uma análise mais detalhada revelou que idade, sexo, tabagismo, consumo de peixes não oleosos, hipertensão arterial e uso de medicamentos para a pressão arterial alteraram as associações observadas. A utilização regular de suplementos de óleo de peixe e o risco de ataque cardíaco, acidente vascular cerebral (AVC) e insuficiência cardíaca foi 6% a mais em não fumantes. O efeito protetor da substância para reduzir as chances de morte foi maior em homens, com risco 7% menor, e em participantes mais velhos, 11% mais vantajoso.

Para Durval Ribas Filho, nutrólogo, membro da Obesity Society FTOS, nos Estados Unidos, e presidente da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran), existe um aspecto muito relevante dentro desse contexto: a quantidade e a posologia do consumo. “Há um exemplo típico de um paciente relativamente jovem que começou a usar certa quantidade por dia de ômega 3 e ele teve um acidente vascular hemorrágico. Ele favoreceu uma redução maior que a necessária da viscosidade sanguínea e consequentemente desenvolveu um acidente vascular cerebral.

Segundo Ribas Filho, é necessário ter precaução com o suplemento. “Esse trabalho mostra os dois lados: o excesso, assim como a falta, faz mal para saúde”

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  • Redação Citizen

    Redação do Portal Citizen

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