Medicina do futuro
Inglaterra vai mapear DNA de todos os bebês
Com investimento bilionário, novo programa do Reino Unido pretende prever doenças genéticas desde o nascimento e mudar os rumos do sistema de saúde
Imagina saber, já nos primeiros dias de vida, se seu bebê tem risco de desenvolver uma doença rara, grave e silenciosa — e ainda poder tratar antes mesmo dos primeiros sintomas? É exatamente isso que a Inglaterra quer colocar em prática. A partir de agora, todo recém-nascido inglês terá o DNA sequenciado, num projeto ambicioso que pretende transformar o jeito como a saúde é pensada e oferecida no país.
Chamado de “medicina preditiva”, o programa é parte de um plano de 10 anos do NHS (o sistema público de saúde britânico) e já nasceu com uma promessa ousada: prever, prevenir e personalizar. Para isso, o governo vai investir cerca de £ 650 milhões (R$ 4,8 bilhões) em pesquisas e estrutura.
Plano que pode mudar a saúde pública na Inglaterra
O novo modelo começa com os bebês, mas já está conectado a uma estratégia maior. O plano é usar inteligência artificial e genômica para criar uma base de dados que ajude a antecipar diagnósticos e oferecer tratamentos antes mesmo que os sintomas apareçam.
Na prática, isso quer dizer: em vez de correr atrás do prejuízo, o sistema de saúde vai correr atrás da prevenção. E isso, segundo o próprio governo britânico, alivia a pressão sobre os hospitais, melhora a qualidade de vida da população e pode até aumentar a expectativa de vida.
O projeto piloto começou em outubro de 2024, com cerca de 100 mil recém-nascidos. Agora, a meta é alcançar todos os bebês que nascerem no país. Mas o foco não é qualquer gene. A triagem se concentra em doenças genéticas que surgem na primeira infância e que já têm tratamento eficaz disponível.
Mais que tecnologia: é preciso escuta, preparo e acolhimento
Apesar do entusiasmo com a novidade, especialistas alertam: informação genética não basta. É preciso saber o que fazer com ela. E, mais importante, como conversar com as famílias sobre o que foi descoberto.
“Não se trata apenas de coletar dados, mas de interpretar com responsabilidade e sensibilidade”, diz o geneticista Robin Lovell-Badge, do Instituto Francis Crick, em Londres. Segundo ele, o Reino Unido precisará de muito mais conselheiros genéticos para acompanhar pais e mães que receberem resultados preocupantes.
E no Brasil? Ainda estamos no básico
Enquanto isso, aqui no Brasil, os recém-nascidos fazem o conhecido teste do pezinho, oferecido pelo SUS. Ele detecta sete doenças graves, incluindo fibrose cística e hipotireoidismo congênito. Embora seja um avanço, o exame ainda é limitado se comparado ao mapeamento genético completo.
O debate por aqui ainda engatinha. Fala-se em ampliar o número de doenças analisadas no teste, mas o salto para o sequenciamento do genoma ainda está distante da realidade do sistema público de saúde brasileiro.
O DNA guarda respostas que, até pouco tempo atrás, pareciam coisa de ficção científica. Mas hoje, com avanço da genômica e da IA, essas informações viraram ferramentas concretas para cuidar de vidas desde o berço.
Na Inglaterra, a revolução já começou. E, se tudo der certo, cada choro de recém-nascido pode significar um futuro com menos dor, menos incerteza e muito mais saúde.



