Estratégia Política
Brasil e EUA enfrentam crise diplomática, mas vínculos estruturais seguem firmes
Analista da USP diz que tensões políticas não rompem laços profundos entre os países

A relação entre Brasil e Estados Unidos vive um momento tenso, talvez o mais delicado em dois séculos. As rusgas diplomáticas recentes — como o julgamento de Bolsonaro, a sanção americana contra o ministro Alexandre de Moraes e as tarifas comerciais unilaterais — acenderam o sinal de alerta em Brasília e Washington.
Mas, para além das manchetes, a conexão entre os dois países segue sólida. É o que defende Alberto Pfeifer, da USP, ao lembrar que valores como democracia, liberdade de expressão e economia de mercado seguem sendo os pilares do vínculo.
Mesmo com ruídos políticos, os dois lados permanecem interligados por algo mais profundo: tecnologia, defesa e padrões industriais. Pfeifer não vê o Brasil migrando para sistemas russos ou chineses. “As companhias americanas ainda são a melhor opção”, afirma, citando o peso da indústria de defesa, onde mais de 90% dos vínculos brasileiros são com os EUA.
Ele alerta que um rompimento não seria apenas simbólico — seria operacionalmente desastroso, principalmente no setor militar. Equipamentos, treinamento e até a lógica de integração dependem do modelo americano.
Diante disso, Pfeifer recomenda cautela. Não é hora de alimentar conflitos nem de reinventar alianças.
“Nosso lugar no mundo é o continente americano. É com liberdade, democracia e mercado”, conclui. A crise é real — mas o divórcio, ao que tudo indica, ainda está bem longe.