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Fogo Bom

Mestres do fogo: queimadas que salvam vidas e transformam o Cerrado

No coração do Jalapão, brigadistas e comunidades quilombolas mostram que o fogo, quando bem conduzido, pode ser aliado da natureza e não inimigo

Na vastidão dourada do Cerrado, onde o vento sopra quente e o capim dança em chamas controladas, caminhonetes do ICMBio avançam lentamente. Lá estão os chamados “mestres do fogo”, brigadistas que ateiam o fogo para salvar — e não destruir. “Este aqui é um fogo bom, manso, brando”, explica Deusimar Cardoso, enquanto observa as labaredas subirem e morrerem suavemente com o sereno da noite.

A técnica, chamada de queima prescrita, faz parte de uma política que vem mudando a forma de lidar com incêndios florestais no Brasil. Ao queimar pequenas áreas antes do auge da seca, os brigadistas eliminam o excesso de capim seco — combustível para grandes tragédias ambientais. O resultado é surpreendente: incêndios que antes consumiam até 100 mil hectares agora raramente passam de 3 mil.

Mas essa convivência com o fogo nem sempre foi pacífica. No início dos anos 2000, a política do “fogo zero” imposta em unidades de conservação do Jalapão levou à perda de tradições quilombolas e, ironicamente, a incêndios devastadores. Foi só após uma missão à Austrália, em 2014, que o ICMBio começou a enxergar o fogo como parte do equilíbrio natural do Cerrado.

Hoje, o Manejo Integrado do Fogo une ciência e saberes tradicionais. As comunidades voltaram a realizar queimas para abrir roças, renovar pastagens e proteger as casas.

“Sem esse fogo preventivo, não tem como viver aqui”, diz o quilombola Tadeu Ribeiro Alves.

Marco Borges, chefe da Estação Ecológica Serra Geral do Tocantins, resume com um sorriso:

“Aprendemos a diferenciar o fogo bom do fogo ruim. E, no fim das contas, o fogo pode até ser terapêutico”.

  • Com informações da BBC News
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  • Redação Citizen

    Redação do Portal Citizen

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