Uma alta que mexe com todo o setor

O mercado do cacau terminou a semana com aquele ar de surpresa que só as commodities conseguem provocar. Os contratos de março, negociados em Nova York, saltaram mais de 8%, enquanto Londres registrou alta acima de 4%. Quem acompanha o setor já sabe que movimentos assim nunca vêm sozinhos — e, dessa vez, o gatilho foi a forte revisão da ICCO sobre a produção mundial.

Estimativas menores e traders em alerta

A nova previsão reduziu drasticamente o superávit global da safra 2024/25: de 142 mil toneladas para apenas 49 mil. A produção também encolheu para 4,69 milhões de toneladas. Foi o suficiente para virar o humor dos investidores. Com o dólar enfraquecido, traders correram para recompor posições, ampliando um movimento especulativo que encontrou campo fértil num mercado já pressionado.

Estoques baixos dão força à escalada

Outro dado que acendeu o alerta foi a queda dos estoques supervisionados pela ICE nos EUA, que chegaram ao menor nível em nove meses. Com apenas 1,7 milhão de sacas disponíveis, o mercado reagiu rápido. Fundos especulativos aproveitaram o momento e abriram espaço para um rally que ainda deve repercutir nos próximos dias.

África entre otimismo e incerteza

Na África Ocidental, coração da produção mundial, o clima é de expectativas misturadas. Apesar de boas projeções e de uma safra promissora, a chegada de grãos aos portos marfinenses caiu 3,7%. A contagem de vagens está acima da média, mas permanece a sensação de que qualquer mudança climática pode virar o jogo de uma hora para outra.

Demanda fraca fecha o cerco

Enquanto isso, a outra ponta da cadeia não reage no mesmo ritmo. A moagem na Ásia caiu 17% e a Hershey registrou vendas menores no Halloween. Ainda assim, o cacau segue valorizado, num equilíbrio frágil que depende de fatores globais, clima e políticas regulatórias. E, como o setor já sabe, basta um detalhe para tudo mudar de novo.