Brasil

Raízes do CV

A origem e a expansão do Comando Vermelho pelo Brasil

Nascido em presídios durante a ditadura militar, o grupo criminoso se tornou o mais influente do país e desafia o Estado até hoje

Quase cinco décadas separam a origem do Comando Vermelho (CV) do cenário de guerra visto nas comunidades do Rio de Janeiro nos últimos dias. O grupo nasceu na década de 1970, dentro do Instituto Penal Cândido Mendes, em Ilha Grande, quando presos políticos da ditadura militar passaram a conviver com criminosos comuns.

Essa convivência inusitada resultou na troca de ideias sobre direitos, resistência e organização. O grupo de detentos, que inicialmente se chamava Falange Vermelha, criou um código interno de convivência, baseado em união e lealdade. Um de seus fundadores, William da Silva Lima, o “Professor”, relatou em seu livro 400 x 1 que o objetivo era apenas sobreviver e criar ordem nas prisões — até que o poder cresceu.

Do assalto à droga

Após a Lei da Anistia, em 1979, os presos políticos foram libertados, e os remanescentes da Falange passaram a buscar outros meios de sustento e influência. As fugas em massa e os assaltos a bancos deram ao grupo recursos para investir em uma nova atividade: o tráfico de drogas.

Com a ascensão da cocaína na América Latina, o Brasil virou uma rota estratégica para o transporte da droga entre a Colômbia e a Europa. O Comando Vermelho aproveitou a oportunidade e consolidou o domínio sobre territórios no Rio de Janeiro, onde o poder passou a ser garantido pela força das armas

A necessidade de proteger a mercadoria gerou confrontos, e o grupo começou a se armar pesadamente. As guerras de território entre facções se intensificaram, e o armamento pesado entrou de vez nas favelas. Com o tempo, o Comando Vermelho consolidou o domínio em grandes áreas do Rio de Janeiro, tornando-se sinônimo de poder paralelo.

A expansão nacional

A facção cresceu em meio a guerras por território e se fortaleceu com a venda de armas ilegais. Na década de 1990, o governo tentou conter o avanço do grupo transferindo líderes para outras penitenciárias. O resultado foi o contrário: o CV expandiu suas ideias e criou alianças em diferentes estados.

Hoje, o Comando Vermelho atua em 25 estados brasileiros e domina mais da metade das áreas controladas por grupos armados na Região Metropolitana do Rio. A estrutura de comando funciona de forma descentralizada, quase como um sistema de franquias, em que cada “dono de morro” mantém autonomia, mas segue os princípios do grupo.

Novas tecnologias e lucros bilionários

Nos últimos anos, o CV passou a incorporar tecnologia e diversificar suas fontes de renda. Além do tráfico, a facção movimenta bilhões em mercados ilegais de ouro, combustível, bebidas e cigarros. A fabricação de armas em impressoras 3D e o uso de drones em confrontos recentes mostram o quanto o crime se modernizou.

A Polícia Federal tem identificado fábricas clandestinas equipadas com tecnologia de ponta. Essa nova estrutura de produção armamentista é resultado da flexibilização das regras de controle de armas, que ampliou o acesso a peças e equipamentos usados para fabricar fuzis e pistolas.

Mesmo com operações policiais cada vez mais violentas, os números mostram que o Comando Vermelho segue crescendo. Segundo o Instituto Fogo Cruzado, áreas dominadas pelo tráfico têm quase quatro vezes mais chances de registrar confrontos do que regiões sob controle das milícias.

A ineficácia das operações

Apesar das operações constantes, o Estado ainda não conseguiu enfraquecer o CV. O grupo continua expandindo suas áreas de influência, principalmente em regiões dominadas pelo tráfico. Dados do Instituto Fogo Cruzado mostram que os confrontos armados se concentram justamente onde o Comando Vermelho atua, indicando que o ciclo de violência persiste sem resultados efetivos.

As ações do Estado têm sido pontuais e pouco eficazes em recuperar territórios. A cada nova operação, o cenário se repete: confrontos, mortes e uma sensação crescente de que o poder real, em muitas comunidades, ainda não está nas mãos do governo, mas nas do Comando Vermelho.

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  • Redação Citizen

    Redação do Portal Citizen

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