
No Ginásio Caetano de Campos — o “Caetaninho” da Rua Augusta — surgiu, quase que por impulso, a semente do Dia do Professor. Lá, professores sentiam o desgaste do segundo semestre letivo sem pausas nem reconhecimento. Foi Salomão Becker quem lembrou de uma tradição de sua cidade natal — alunos levando doces aos mestres — e propôs que aquela escola adotasse uma data simbólica para celebrar os docentes. Era mais do que gesto: era um reconhecimento humano, íntimo, nascido da rotina escolar.
Da sala de aula ao protagonismo político
A data não ficou restrita àquele colégio. Em 1947, a idéia tomou corpo e se virou norma no estado de São Paulo. Mas foi outra figura essencial para consolidar o Dia do Professor: Antonieta de Barros. Professora, jornalista e deputada estadual em Santa Catarina, ela bandeirou a causa nos corredores da política. Como primeira mulher negra eleita no Brasil e figura de vanguarda, Antonieta formalizou o reconhecimento do magistério como uma instituição digna de celebração pública. Seu protagonismo lembra que o reconhecimento docente não nasce só de idéias isoladas, mas da ação política e da representatividade.
Símbolos, instituição e identidade docente
A escolha de 15 de outubro não foi aleatória: coincide com a data da Lei Imperial de 1827, que instituiu a educação primária em todo o território nacional. Ao juntar essa herança legal à iniciativa do Caetaninho e ao ativismo de Barros, criou‑se um ritual coletivo de valorização do professor. A “festa de sala” virou marco simbólico.
Becker, que lecionou por quase meio século, era mais do que um idealista: vivia o cotidiano da sala de aula. Tinha paralisia no braço direito desde o nascimento — e mesmo assim se dedicou integralmente ao ensino. Antonieta, por sua vez, dedicou sua trajetória à educação e à política, cruzando as barreiras de gênero e raça para inserir na legislação e na memória pública o valor do professor.
Um resgate que inspira presente
Contar essa história me emociona porque mostra que datas nem sempre surgem de decretos imponentes. Algumas nascem com o calor humano de uma turma em sala, com a urgência de quem quer ser visto. E, com o esforço de pessoas como Becker e Barros, esse gesto se tornou celebração nacional.
Hoje, 15 de outubro é mais que um feriado escolar: é um convite para refletir sobre as condições do magistério, sobre o peso da representatividade e sobre como reconhecer quem ensina gera efeitos que ecoam em toda a sociedade.