
Jorge Braga não era só um cartunista — era uma referência. Daquelas que, mesmo sem assinar um editorial, dizia tudo com um desenho. Morreu no dia 1º de julho, aos 69 anos, vítima de enfisema pulmonar. Goiás perdeu seu rei das charges. E o jornalismo, um de seus artistas mais originais.
O menino de Patos que virou lenda em Goiânia
Nascido em Patos de Minas em 1955, Jorge fez de Goiás sua morada definitiva. E, da prancheta, sua trincheira. Começou no Cinco de Março, passou pela Folha de Goiaz, foi responsável pela primeira capa do Jornal Opção e terminou sua trajetória em O Popular, onde seu traço virou marca registrada.
Não havia edição que passasse sem um comentário ácido, um humor sutil ou uma crítica social embutida em seus desenhos. Era o tipo de artista que fazia pensar. Que cutucava, mas com elegância. Um Ziraldo do Cerrado — como muitos o chamavam, com toda razão.
Mais do que cartunista: cronista do cotidiano
Jorge não desenhava por desenhar. Ele escrevia com o traço. Cada cartum seu era quase uma crônica visual: simples, certeira, profunda. Suas tirinhas, junto às de Britz, muitas vezes funcionavam como editoriais paralelos dentro de O Popular. Mesmo sem destaque de capa, seus desenhos falavam alto.
É irônico que justamente o jornal onde mais brilhou nunca tenha lhe dado o devido espaço na primeira página. Mas isso nunca pareceu incomodá-lo. Jorge desenhava como quem respira. Era por amor, e isso transparecia.
Um romântico fora do tempo
Ele era do tipo que hoje parece em extinção. Mistura de boêmio, poeta e artista à moda antiga. Quando estava bem de saúde, era fácil encontrá-lo entre amigos, cerveja na mão e histórias na ponta da língua. Sempre rindo, sempre fazendo rir.
Não era do tipo amargo, mesmo com todas as razões que o mundo dava. Era doce, no trato e no humor. Era raro. E sabia disso, mas sem arrogância. Recusou propostas de ir para São Paulo e Rio — podia ter brilhado nos grandes centros, sim — mas preferiu ficar por aqui. Onde era rei.
Vai fazer falta — e muita
Goiás perdeu mais do que um cartunista. Perdeu uma memória afetiva, um riso matinal, uma crítica bem-humorada no meio da rotina pesada. Perdeu alguém que sabia falar de política sem gritar, de gente sem julgar e da vida com um traço só.
Jorge Braga era daqueles que tornam um jornal mais leve, uma cidade mais divertida e um tempo mais suportável. Vai fazer falta. E não só para o jornalismo. Vai fazer falta para quem gosta de rir com inteligência. Para quem enxerga arte até no preto e branco de um cartum.