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Lula pressiona por acordo Mercosul-UE, mas Macron pisa no freio por temor agrícola

O Presidente Lula pede a Macron que “abra o coração” e destrave o acordo Mercosul-UE; o francês se atenta aos riscos, pedindo cláusulas de proteção ao agronegócio e rígidos padrões ambientais.

O encontro entre Luiz Inácio Lula da Silva e Emmanuel Macron, em Paris, foi carregado de diplomacia, mas também de tensão. Lula, firme em seu objetivo de fechar o tão adiado acordo entre o Mercosul e a União Europeia, pediu que Macron “abrisse o coração”. O francês, por outro lado, mostrou que, para ele, o coração até pode estar aberto — mas os olhos estão bem atentos aos riscos internos.

Lula quer fechar o acordo antes de deixar o comando do Mercosul

Lula deixou claro que não pretende sair da presidência temporária do Mercosul sem amarrar o tratado com a UE. Ele fez questão de dizer isso ao vivo e em cores, em território francês: “Não está difícil fazer o acordo. O que não pode é um bloqueio”, disse.

Com sua conhecida habilidade de falar com o coração, Lula apelou à sensibilidade de Macron. Pediu que os agricultores franceses deixem de ver o Brasil como ameaça e passem a encarar o país como parceiro. “Possivelmente, nossa agricultura é complementar à de vocês”, afirmou, propondo até um diálogo direto entre os produtores dos dois lados do Atlântico.

Macron responde com cautela: “há uma discrepância nas regras”

Do outro lado da mesa, Macron manteve o tom cortês, mas não recuou. Explicou que o acordo pode até ser interessante economicamente, mas traz riscos — principalmente para o setor agrícola francês, que teme ser esmagado pela concorrência sul-americana.

“Não é uma questão de competitividade ou qualidade. É uma questão de regulamentação”, disse o francês, ao explicar que os países do Mercosul não seguem os mesmos padrões ambientais e sanitários exigidos pela UE. “Temos que aprimorar o acordo, criar cláusulas de salvaguarda”, completou.

E mais: Macron foi claro ao afirmar que, se o acordo não garantir proteção ao setor agrícola europeu, ele pode acabar sendo um tiro no pé. “Não vale a pena defender o clima se isso significar fechar nossa indústria e importar tudo, quebrando nossos agricultores”.

Agricultura, clima e soberania no centro do impasse

O clima foi outro ponto delicado na conversa. Lula se irritou com os questionamentos recorrentes da Europa sobre o desmatamento na Amazônia. Ele disse que o Brasil cuida de seus biomas como “se fossem nossa própria cama” e pediu que Macron não permita que a Europa duvide do compromisso brasileiro com o meio ambiente.

“Temos 8,5 milhões de km². Não é um país pequeno, afirmou.

Parceria estratégica continua, apesar das divergências

Mesmo com todas as tensões, os dois líderes fizeram questão de reforçar que a parceria entre Brasil e França segue firme. Lula destacou a importância de os dois países caminharem juntos na defesa da democracia e do multilateralismo. Macron, por sua vez, confirmou presença na COP-30, que será sediada no Brasil, e disse que Brasil e França compartilham a mesma visão de mundo: aberta, justa e comprometida com o clima.

“Nós dois acreditamos em um mundo que respeite tanto o meio ambiente quanto o comércio”, disse o presidente francês.

No fim das contas…

O cenário é esse: Lula quer urgência e aposta na diplomacia afetiva. Macron quer segurança e joga com o pragmatismo político. Entre os interesses econômicos do Mercosul e os temores ecológicos e sociais da Europa, o acordo ainda parece longe de um desfecho.

Mas uma coisa ficou clara nessa visita a Paris: Lula não vai desistir tão fácil. E Macron não vai ceder sem garantias. A novela Mercosul-União Europeia continua. E com capítulos cada vez mais intensos.

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  • Redação Citizen

    Redação do Portal Citizen

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