Em meio a um mundo marcado por guerras crescentes, fronteiras vigiadas e tensões políticas que só fazem piorar, é quase estranho imaginar que ainda existam lugares onde dá pra caminhar à noite sem medo. Onde se deixa a porta destrancada. Onde a paz não é só estatística, mas rotina.
É o que mostra o Índice Global de Paz 2025 (GPI), produzido pelo Instituto para Economia e Paz. Mesmo com o maior número de conflitos entre Estados desde a Segunda Guerra, alguns países seguem nadando contra a corrente — e com resultados consistentes.
Entre os 163 avaliados, cinco se destacam por algo raro hoje em dia: segurança, confiança mútua e comunidades que funcionam. A seguir, conheça os cinco países mais seguros do mundo em 2025 e entenda por que eles continuam sendo verdadeiros refúgios em meio ao caos.
1. Islândia: segurança é cultura, não protocolo
A Islândia lidera o ranking há 17 anos consecutivos — e não parece prestes a sair do topo. Com baixíssimos índices de criminalidade, nenhuma força armada e uma comunidade que se protege coletivamente, o país tem uma abordagem de paz que vai além de leis: ela faz parte do cotidiano.
“Você pode deixar um bebê dormindo do lado de fora de um café sem preocupação nenhuma. Isso diz tudo”, conta Inga Rós Antoníusdóttir, moradora de Reykjavik.
A base dessa segurança? Igualdade de gênero, sistema de saúde eficiente, educação pública forte e, claro, muita confiança social.
Mais do que números, é uma sensação: a Islândia faz com que a ideia de “viver em paz” não pareça utopia.
2. Irlanda: da violência histórica à paz ativa
Quem pensa na Irlanda lembra dos conflitos do passado, mas o país virou a página com maestria. Em 2025, está entre os 10 primeiros no quesito segurança interna e baixíssima militarização.
“Aqui, todo mundo se sente parte de uma comunidade, mesmo nas cidades grandes”, diz Jack Fitzsimons, morador de Kilkea Castle.
Além de políticas públicas voltadas ao bem-estar coletivo, a Irlanda aposta na diplomacia e na neutralidade — não faz parte da Otan, por exemplo —, mantendo distância estratégica de conflitos externos.
A paisagem bucólica ajuda a reforçar a sensação de tranquilidade. “Você escuta mais pássaros do que buzinas. É esse tipo de paz”, diz Fitzsimons.
3. Nova Zelândia: proteção natural e confiança social
Ter duas ilhas isoladas no Pacífico já oferece alguma vantagem geopolítica. Mas a Nova Zelândia foi além e transformou segurança em valor social.
“As leis de armas são severas, e a confiança entre as pessoas é real. Você sente isso na forma como te tratam”, diz Mischa Mannix-Opie, que vive em Wellington.
Crianças vão sozinhas pra escola, casas ficam destrancadas, estranhos ajudam na rua. É quase impensável para muitos — mas é o normal por lá.
Mesmo enfrentando desafios com eventos climáticos, o país investe pesado em educação, saúde pública e inclusão. Resultado? Um povo calmo, resiliente e conectado com a natureza.
4. Áustria: neutralidade que gera estabilidade
A Áustria caiu uma posição este ano, mas continua sendo um dos lugares mais seguros do planeta. E isso se deve, em parte, à sua política de neutralidade mantida há décadas.
“Investimos em pessoas, não em guerra”, resume Armin Pfurtscheller, que vive no Vale Stubai.
Ele conta que à meia-noite, famílias caminham tranquilamente ao longo do rio. Bicicletas ficam sem cadeado. Casas, abertas. “O estresse vai embora. Aqui, você respira.”
Com um sistema de saúde exemplar e forte apoio social, a Áustria oferece não só segurança, mas também qualidade de vida — o tipo de lugar onde o silêncio tem som.
5. Singapura: segurança em alta, liberdade em debate
No topo da Ásia, Singapura é um caso à parte. Apesar de rígida em vários aspectos, especialmente nas liberdades civis, a cidade-Estado oferece um nível de segurança inigualável.
“Posso andar às 2h da manhã sozinha e me sentir segura. Isso é raro no mundo de hoje”, afirma Xinrun Han, moradora local.
A ausência de conflitos internos, policiamento eficiente e tecnologia aplicada à segurança fazem de Singapura um exemplo de gestão urbana. Mas há debates em aberto: o país ainda impõe limites à comunidade LGBT+ e à liberdade de expressão.
Mesmo assim, moradores valorizam o equilíbrio entre ordem e qualidade de vida. “A sensação de paz aqui é quase palpável. E real.”
Onde a paz ainda respira
Com o Brasil ocupando o 130º lugar no ranking e enfrentando desafios crescentes de segurança pública, olhar para esses países pode ser uma forma de repensar caminhos. A paz, afinal, não nasce do acaso — ela é construída, cultivada e protegida todos os dias.
Estes cinco países não são perfeitos. Mas mostram que é possível, sim, viver com mais tranquilidade. E num mundo cada vez mais em crise, isso é tudo — ou quase.
- Com informações da BBC News Brasil



