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Memória e Patrimônio

Cemitério de escravizados é localizado sob estacionamento de casa de eventos em Salvador

Pesquisadores confirmam existência de área com ossadas humanas onde funcionou cemitério que abrigou mais de 100 mil sepultamentos entre os séculos 18 e 19

Por mais de um século, corpos de pessoas escravizadas, pobres, indígenas, condenados e insurgentes foram sepultados ali. Mas ninguém mais sabia. O antigo cemitério do Campo da Pólvora, em Salvador, onde pelo menos 100 mil pessoas foram enterradas, foi redescoberto sob o asfalto do estacionamento de uma casa de eventos da Santa Casa da Misericórdia da Bahia.

O local, que já abrigou um orfanato e hoje é sede de uma faculdade e centro de eventos, passou quase dois séculos invisível e sua história, silenciada. O que se sabia vinha de registros antigos, como os Livros de Banguê, hoje sob posse da própria Santa Casa.

Mas o que era apenas teoria virou fato: pesquisadores da UFBA localizaram ossos humanos, dentes e objetos de rituais fúnebres do candomblé após escavações iniciadas em maio. O terreno agora está reconhecido pelo Iphan como sítio arqueológico, o que impede qualquer intervenção sem autorização federal.

A arqueóloga Jeanne Dias e a pesquisadora Silvana Olivieri lideraram a descoberta, com apoio do Ministério Público da Bahia, após meses de resistência institucional e chuva pesada que dificultou os trabalhos.

“Era um espaço de descarte social. Não de luto, nem de acolhimento”, resume Jeanne. Já Olivieri fala em reparação histórica. “Queremos tirar esse cemitério da invisibilidade e propor um memorial digno aos mortos ali enterrados.”

A Santa Casa, que faturou R$ 5,6 milhões com o estacionamento em 2024, alega ter colaborado com a pesquisa e diz aguardar laudo técnico para decidir o que será feito.

A descoberta reacende a urgência de dar nome, rosto e respeito aos que foram apagados da memória oficial da cidade. E pode transformar um lugar antes ignorado em símbolo de dignidade e ancestralidade.

 

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  • Redação Citizen

    Redação do Portal Citizen

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