Tradição Viva
Quem foram São Cosme e São Damião: fé, cura e doces que atravessaram os séculos
Do martírio na Antiguidade às ruas do Brasil, os gêmeos médicos são lembrados por sua caridade, milagres e a doçura que conquistou crianças de todas as religiões.

No dia 26 de setembro, ruas de várias cidades brasileiras se enchem de crianças correndo atrás de saquinhos de doces. Mas por trás da tradição colorida e alegre, está a história antiga e pouco documentada de dois irmãos que viveram provavelmente entre os séculos I e III e dedicaram suas vidas a curar sem cobrar nada.
Segundo a tradição, Cosme e Damião nasceram onde hoje é a Turquia ou a Síria. Eram médicos, cristãos e muito respeitados, justamente por praticarem a medicina como um ato de fé e caridade. Essa postura os colocou na mira de governantes romanos, em especial do imperador Diocleciano, conhecido por perseguir cristãos. Eles foram torturados e executados por se recusarem a renunciar à fé.
Mesmo com pouquíssima documentação histórica, o culto a Cosme e Damião é antigo: começou entre os séculos IV e V, e ganhou força com a construção da primeira basílica dedicada a eles, no coração de Roma. No Brasil, o teólogo Alves explica que os antigos escravizados, como forma de camuflar suas crenças, passaram a associar seus orixás crianças, os Ibeijis, que também são gêmeos, aos santos católicos Cosme e Damião.
A tradição de distribuir doces surgiu justamente dessa mistura entre fé cristã e religiosidade afro-brasileira. Para muitos, é uma forma de agradecer por graças alcançadas. Para outros, é pura devoção. Mas para as crianças, é um dia de festa que reforça a memória coletiva.
A devoção também ecoa nos relatos milagrosos. O mais famoso é o do sacristão curado de hanseníase por meio de um transplante feito pelos santos um gesto simbólico que uniu medicina, fé e o desejo de cuidar do outro, mesmo após a morte.
E assim, entre espadas, sonhos e saquinhos de balas, a história de Cosme e Damião continua viva, doce e cheia de significado.
- Com informações da BBC