
Quando falamos em mulheres artistas, quase sempre começamos pelo Renascimento, como se antes disso elas simplesmente não existissem. Mas existiam, sim. E não eram poucas. A Grécia Antiga abrigou diversas pintoras — algumas tão habilidosas que superavam os homens em valor artístico e até em preço de venda. Mas a história resolveu deixá-las de lado.
Plínio, o Velho, um historiador romano do século I, dedicou apenas um parágrafo a elas em sua famosa História Natural. Em poucas linhas, ele cita nomes como Timarete, Irene, Calipso, Aristarete, e a extraordinária Laia de Cízico. Esta última era conhecida pela rapidez com o pincel e por retratar, quase exclusivamente, mulheres. Seu autorretrato ao lado de um espelho era famoso em Nápoles. Nada mal para quem viveu há mais de dois mil anos.
Pintura antes do pincel: arte nas mãos das tecelãs
Muito antes de entrarem nos ateliês, as mulheres já dominavam a arte nos bastidores da história. No mito, Atena, deusa da sabedoria, era também patrona dos bordados e tecelagens. Era nesses fios que as mulheres antigas expressavam o mundo — como Penélope, que bordava de dia e desfazia à noite para evitar um novo casamento, esperando Ulisses.
Essas criações não eram apenas domésticas. Eram verdadeiros registros históricos e artísticos. Não por acaso, a jovem Aracne, que ousou competir com Atena na arte de tecer, virou símbolo de resistência criativa — e foi eternizada na pintura de Velázquez, séculos depois.
A primeira pintora conhecida não teve sequer o nome registrado. Ficou conhecida apenas como “a jovem coríntia”. Ela desenhou o perfil do amado na parede, criando, sem querer, o primeiro retrato de que se tem notícia. Dali em diante, outras mulheres deixaram seus teares para trabalhar com pincéis nas oficinas dos pais, todos eles pintores reconhecidos.
Apesar dos registros, nenhuma obra assinada por essas mulheres sobreviveu. Nem cópias. Sabemos delas por textos, mosaicos, afrescos de Pompeia, e pelo esforço de estudiosos que se recusaram a aceitar o apagamento. A história da arte, enfim, começa a olhar para trás e perceber que o silêncio não foi ausência — foi esquecimento.
E redescobrir essas artistas é, também, um ato de justiça.